Olhando através da janela suja do meu apartamento, eu percebi que você me passava segurança. Uma leoa cuidando de sua cria. Alimentando-me de palavras doces, verdades inocentes e exclusivamente de amor. Meus melhores momentos, meus sorrisos mais espontâneos. Após essa reflexão, comecei a chorar. Desabei. Sentei no chão, abracei minhas pernas para tentar aliviar a sensação de vazio varando o meu peito como um buraco negro e ali mesmo chorei. Passei metade da noite chorando e resolvi dormir para ter sonhos e pensamentos agradáveis. Logo que deitei na cama, senti algo me incomodando. Passei a mão embaixo de mim e senti, seu brinco preferido, entre os meus dedos. Comecei a chorar mais uma vez. Abracei um travesseiro e senti o cheiro do seu perfume preferido rasgando minhas narinas como se fosse a coisa mais proibida e prazerosa de sentir. Levantei desesperadamente, ainda abraçado ao seu travesseiro perfumado e voltei para o chão da sala. Sentei na mesma posição, mas fiquei abraçado ao seu travesseiro. Por que acabou assim?
Ainda inconformado e abraçado ao seu travesseiro, resolvi acabar logo com isso. Levantei e peguei uma gilete no banheiro. Voltei à sala, sentei do mesmo jeito e cortei meus pulsos. Comecei a me sentir mais leve, respiração lenta, cabeça pesada. Comecei a sangrar. Meu corpo, ainda abraçado ao travesseiro caiu de vez no chão. Meu sangue caia sobre o seu travesseiro perfumado. O amor que eu tinha por ti e que corria nas minhas veias se misturou ao seu aroma. Tive mais perto de você na hora da morte do que estive minha vida inteira. Meu sangue, seu perfume, nosso amor.
Tudo acabou como na história de Romeu e Julieta. Duas pessoas mortas, e dois corações unidos pela eternidade.